Uma das partes mais essenciais para o tratamento é a busca pelo profissional. Para isso, é necessário distinguir a atuação de cada especialista
Quando temos uma dor no peito, rapidamente recorremos a um cardiologista. Se algo coça sem parar, vamos ao alergista. Se o problema é na visão, a consulta com o oftalmologista é marcada imediatamente. Mas, e quando não se sabe ao certo o que dói? A pergunta que logo vem à tona é: qual profissional consultar quando a problemática não é física?
Com o surgimento de alguma mudança emocional, a busca pelo profissional mais indicado para a atenuação dos sintomas se torna uma demanda. Mas é aí que os questionamentos moram, visto que a sede pela melhora faz com que muitos se empenhem em procurar especialistas que não são os mais indicados para o tratamento daquilo que é sentido. Dentre os profissionais destinados ao setor mais subjetivo do organismo existem os psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, sendo que essa tríade tem um perfil específico. Assim, é importante saber qual é o domínio de cada um dos especialistas possíveis para, então, descobrir o mais indicado ao tratamento.
Observando comportamentos
Durante a graduação, o psicólogo adquire arcabouço para diferentes abordagens. Contudo, o futuro profissional termina por escolher uma vertente na qual irá atuar. Sua principal ação é o estudo do comportamento dos futuros clientes. Para isso, o psicólogo faz uso da psicoterapia e da orientação psicológica a fim de auxiliar o paciente no tratamento.
A presença dos psicólogos em cenários nos quais se há crises pontuais, como a perda de um emprego, o fim de um relacionamento, problemas com ansiedade e depressão, a fase do luto, traumas, entre tantos outros, demonstra a capacidade dessa especialidade para lidar com determinadas angústias humanas. Em prol da atenuação dos sintomas que o cliente apresenta, o profissional age de maneira acessível, apelando para o diálogo que é intermediado por conceitos que se distinguem de acordo com a abordagem seguida pelo profissional. Tal fato faz com que o paciente se sinta à vontade diante dele.
Os principais objetivos deste especialista é desenvolver os meios e recursos psíquicos, para que o indivíduo possa interagir com as pessoas ao seu redor de maneira mais saudável. Além disso, o psicólogo conduz o paciente a perceber o que lhe causa sentimentos negativos ou as raízes de determinados comportamentos que podem ser prejudiciais ao desempenho social.
O psicólogo está apto – após uma avaliação de casos – a realizar o tratamento em parceria com outros profissionais, para, assim, facilitar e agilizar a melhora do paciente. Segundo a psicóloga clínica e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes “todas as abordagens são boas e eficazes e o paciente deve ter empatia com o profissional que irá atendê-lo e se sentir acolhido em o ambiente terapêutico”.
Diagnóstico aliado à medicina
Diferentemente do psicólogo, o psiquiatra atuará diretamente com processos orgânicos do cérebro humano. Sua formação em medicina, com especialização em psiquiatria, possibilita ao mesmo condições para lidar com os transtornos da mente. Cabe a esse profissional guiar o paciente para o tratamento mais indicado ao seu distúrbio, além de, caso necessário, receitar medicamentos que interferem nos processos químicos do cérebro.
O profissional dessa área é indicado, por exemplo, para o tratamento do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), da depressão, da bipolaridade, da ansiedade, da dependência química, do transtorno de personalidade, da síndrome de pânico e de várias outras patologias que estão diretamente ligadas ao cérebro. O principal objetivo do psiquiatra é aliviar todos os sintomas do seu paciente com o respaldo da medicina, devolvendo a ele o bem-estar.
Priscila explica que, geralmente, o paciente passa primeiro ao psiquiatra e que, no entanto, isso não é uma regra. “Na maioria das vezes, o paciente vai primeiro ao médico (clínico geral) porque não se sente bem. Faz um checkup e, ao perceber um problema emocional, o médico o encaminha para um psiquiatra, que fará uma avaliação mais focada em problemas orgânicos, como, por exemplo, se há uma desregulação neuroquímica, histórico familiar, e irá medicá-lo e/ou encaminhá-lo para a terapia”, confirma a especialista.
Priscila comenta que “normalmente o trata - mento psiquiátrico caminha em conjunto com o processo psicoterapêutico”. A psicóloga ainda revela que o psiquiatra observa a evolução do paciente na terapia para, dessa forma, dosar o medicamento prescrito ao caso.
Olhando para as subjetividades
Qual é a formação de um psicanalista? Geralmente, a atribuição dessa denominação é realizada a profissionais que realizaram uma especialização na área. No caso de um psicó - logo, esse aprofundamento é a pós-graduação. Contudo, esta formação extra não se restringe a profissionais do ramo da psicologia.
Baseada nos estudos do famoso médico austríaco Sigmund Freud, a psicanálise busca desenvolver o autoconhecimento ao paciente para, a partir daí, lidar com as questões ao redor. A principal diferença do psicanalista para o psicólogo se encontra no seu recurso básico de trabalho, visto que esses interpretam aquilo que se encontra no inconsciente e realizam uma associação do “eu” interior com as questões que o rodeiam.
Esses profissionais trabalham especialmente com a fala e a escuta e, ao contrário, dos outros especialistas, não têm a função de diagnosticar ou tratar qualquer tipo de doença. Não receitam remédios e tampouco fornecem encaminhamentos. A função dessa especialidade é de tratamento, em prol do equilíbrio entre o interior do paciente e aquilo que o entorna.
Não são todos os pacientes que se interessam por esse tipo de abordagem. Entretanto, alguns indivíduos recorrem a esse modelo de análise devido a um esgotamento por diferentes pressões sociais e, ao quererem compreender melhor as relações humanas, são conquistados pela linha teórica da psicanálise. É o caso, por exemplo, de pessoas que passam por uma situação de estresse, a qual desencadeia um estado ansioso. Para saná-lo, o indivíduo recorre a um psicanalista. “Na psicanálise há um foco maior na estrutura de vida deste paciente desde a infância e a consolidação da personalidade e caráter é investigada através da interpretação do inconsciente e das consequências em seus atos, além de como o indivíduo lida com as frustrações” aponta Priscila. Dessa forma, essa especialidade “também aborda o seu autoconhecimento e as mudanças de comportamento”, encerra a psicóloga.
CONSULTORIAS Priscila Gasparini Fernandes, psicóloga clínica, mestre e doutora pela com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e psicanalista com especialização em neuropsicologia e neuropsicanálise.
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