A demissão é um dos momentos mais temidos de uma carreira. Porém, o trabalhador deve também visualizar a importância do aprimoramento profissional que a sucede
A história de um personagem chamado Drew Braylor pode servir de lição para aqueles que estão frente a um processo demissional. Esse jovem bem-sucedido, interpretado pelo ator norte-americano Orlando Bloom, é demitido de uma companhia de calçados, após o último lançamento da marca – pelo qual o jovem era responsável – fracassar. Coincidentemente, Drew é demitido no mesmo período em que seu pai falece, o que faz com que o rapaz arrogante da cidade grande retorne à cidade de Elizabethtown, localizada no estado de Kentucky, nos Estados Unidos. Lá, ele conhece pessoas e retoma contato com outras que possibilitam a Drew uma experiência capaz de fazer com que o rapaz revisite seus valores em relação à sua vida.
Essa é a história que norteia o filme Tudo acontece em Elizabethtown, dirigido pelo cineasta norte-americano Cameron Crowe. Inicialmente, a demissão foi o ponto de partida para que Drew conseguisse se moldar ao seu retorno à pequena cidade. Isso porque o foco do designer prodígio foi alterado e a perda de um emprego passou a ter um outro significado. “A demissão pode ser o pontapé inicial para o profissional repensar a sua carreira, ou tirar um sonho da gaveta. Isso é muito positivo. A partir daí, surgem escolhas mais conscientes, diminuindo a possibilidade do profissional buscar uma nova posição apenas por necessidade, mas sim, por propósito”, comenta o especialista em empreendedorismo Lisandro Zanotto. Saiba mais como a demissão pode ter uma representação distinta - e mais positiva - do que aquela imagem tradicional e dolorosa desse processo.
A demissão veio e agora?
Uma série de justificativas podem fazer com que uma pessoa seja demitida. Uma das responsabilidades da empresa é passar um feedback aos seus funcionários, explicando o porquê aquela situação foi gerada. Infelizmente, não é sempre que esse comportamento está como uma das atividades de praxe das grandes instituições e, por isso, indivíduos que perdem suas vagas podem apresentar dúvidas em relação ao próprio potencial no trabalho.
Apesar desse estigma, o momento pós-demissão é essencial para que os indivíduos se enxerguem como pessoas eficazes e aptas a aprender novas habilidades. “Ponha seus desejos no papel e verifique quais as suas possibilidades”, aconselha o psicólogo Celso Braga. O mercado está submetido a uma constante remodelação e, portanto, é importante se manter atualizado.
Segundo uma pesquisa promovida pela consultoria norte-americana ghSmart, 45% dos 2600 líderes entrevistados (em média), durante 10 anos, haviam passado por algum empecilho em suas carreiras que os fizeram modificar o comportamento perante o trabalho. Um dos dados adquiridos nesta análise é de que uma parcela havia conseguido emprego dentro de seis meses, em um ramo já conhecido. Por isso, “é importante verificar naquilo que você é bom e se concentrar para entender como isso pode contribuir em um novo local de trabalho”, comenta Celso, pode ser uma das alternativas à conquista de uma nova vaga. O especialista ainda aponta que “as pessoas ficam preocupadas com suas fraquezas e esquecem de demonstrar suas fortalezas”, e, portanto, não devem se moldar à imagem do antigo trabalho.
Um dado revelado pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), nos Estados Unidos, foi de que uma pessoa é capaz de passar por 12 empregos em média em sua vida. Essa perspectiva deve ser assimilada com a perda de uma renda fixa e o possível estresse que isso pode causar. Contudo, não se deve deixar cair no ostracismo, por mais constrangedora e estressante que a situação se apresente.
Neste momento, a positividade é capaz de gerar uma movimentação emocional. Os frutos dessa situação podem estar atrelados à reconquista da proatividade, a qual possibilita ao indivíduo um reencontro com habilidades e métodos para aprimorá-los. “É uma oportunidade real de analisarmos vários pontos de melhoria, tanto pessoais, quanto profissionais”, confirma a coach Isabella Nóbrega. “Independentemente da forma que aconteceu o desligamento, seja com um feedback construtivo (que é o melhor dos cenários), ou apenas com um simples agradecimento de colaboração, precisa-se parar nesse momento e focar na trajetória, tanto na parte técnica à qual foi contratada, como na parte comportamental desenvolvida nas nossas relações dentro da organização”, comenta a palestrante, especialista em gestão empresarial.
Sintomas e suas medidas
O desligamento abrupto de um cargo pode gerar resquícios que duram ainda alguns dias após a demissão. O processo se intensifica quando a pessoa permanece desempregada por um tempo indeterminado. Muitas vezes, o contato com aquela instituição pode revelar ainda muitas rebarbas, mesmo com o fim do contrato. Ao querer saber sobre a rotina do emprego, após a saída, o ex-funcionário tende a colher detalhes sobre uma rotina que já não lhe contempla mais.
A irritação e o estresse gerados por não pertencer àquele mundo é capaz de ocasionar recaídas emocionais, as quais necessitam ser acompanhadas por um profissional de preferência - principalmente, quando apresentadas com frequência e intensidade.
Quando se inicia uma nova busca por empregos, a necessidade financeira e angústia por ainda não ter um cargo é capaz de interferir na avaliação daqueles responsáveis pelo processo seletivo. “Como recrutadores, conseguimos claramente perceber o nível de ansiedade e autoconfiança de um candidato. Então, a necessidade e a vontade precisam ser demonstradas em uma entrevista, porém, como um atributo positivo para o recrutador, a fim de que ele entenda que isso se transformará em dedicação e comprometimento para a vaga ofertada”, comenta Isabella.
Sabendo disso, uma das medidas para atenuar os efeitos da demissão é dedicar os dias vagos a pequenas incursões no aprimoramento dos potenciais o mercado de trabalho. “Então, a partir desse mindset positivo, traçar as estratégias para conseguir uma nova oportunidade, revisar o currículo, abordar as empresas que estão dentro da área de interesse, frequentar eventos corporativos que possam lhe trazer contatos e, com isso, trabalhar o networking”, como cita Isabella, são atividades intrínsecas ao reposicionamento no ambiente corporativo.
Box: Esforços empreendidos, frutos colhidos
Para facilitar a realidade de um processo admissional, o especialista em empreendedorismo Lisandro Zanotto constrói um passo a passo para a organização do futuro candidato a uma vaga no mercado de trabalho:
1- Autoconhecimento: o especialista comenta que é “fundamental para quem quer planejar e tomar decisões mais conscientes”. Para isso, deve-se ter ciência de quais são os pontos fortes já desenvolvidos (esses que precisam ser administrados) e aqueles que necessitam de esforços para aprimorá-los.
2- Organização: tabelar quais empresas podem ser alvos da próxima busca por um emprego é uma das tarefas que garantem a melhor adequação do profissional ao perfil da empresa almejada. Para esse momento, Lisandro tem um conselho ”estude-as, seja sua cultura, seu estilo de liderança; se for uma empresa de capital aberto, seus números; como a marca é vista no mercado; converse com funcionários ou pessoas que já trabalharam na instituição”. De preferência, as empresas devem ser visitadas na ordem das mais almejadas para aquelas que são menos desejadas.
3- Networking de sucesso: para compreender como funciona a hierarquia da empresa, o ideal é conhecer também os cargos de liderança. 4- Manutenção: estabelecer uma lista de contatos pode auxiliar na consulta de quais são as novas tendências no universo das grandes corporações.
CONSULTORIAS Celso Braga, sócio-diretor do Grupo Bridge, psicólogo, mestre em educação; Isabella Nóbrega, especialista em gestão empresarial, coach, analista comportamental, palestrante; Lisandro Zanotto, especialista em empreendedorismo nas organizações.
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