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Foto do escritorRafael de Toledo

Limites arriscados

A imagem e as funções de um funcionário workaholic, a princípio vistas com bons olhos, podem ser comprometidas pelo estresse intenso


TEXTO RAFAEL DE TOLEDO /COLABORADOR ENTREVISTAS LEONARDO GUERINO E RAFAEL DE TOLEDO / COLABORADORES DESIGN LAURA ALCARÁ/COLABORADORA


E m uma época na qual o termo workaholic (pronuncia-se uôr-ca- -rró-lic) tinha pouco impacto sobre as ações no ambiente profissional, um longa-metragem foi lançado e demonstrou a interferência que o trabalho excessivo pode ter sobre as relações interpessoais. Kramer vs. Kramer é um filme estadunidense que tem como eixo principal o divórcio entre Ted (Dustin Hoffmann) e Joanna (Meryl Streep) junto da batalha judicial pelo filho. Na história, podemos perceber que o rompimento do casal ocorre, principalmente, pela dedicação excessiva do marido à carreira.


Hoje em dia, com muito mais força, workaholic tem sido sinônimo de competência no ambiente corporativo. Contudo, traços de estresse e exaustão surgem em profissionais inseridos nesse grupo, aproximando-os ainda mais da síndrome de burnout.


Servindo ao sucesso ou ao fracasso?

“O único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. É preciso empreender tempo, esforços, energia e dedicação para ascender profissionalmente”, afirma a psicóloga Adriana Schneider. Nesse contexto de grande empenho ao ofício, um dos aspectos debatidos é justamente a saúde do indivíduo como ponto de equilíbrio, como revela a especialista.


No cenário de intensa interatividade, os afazeres exigidos ao profissional, por vezes, vão além do expediente. Contudo, “a partir do momento em que se torna um vício, o trabalho passa a ser nocivo, ultrapassando o limite das pessoas que apreciam executar suas funções com maestria”, pontua Ellen Moraes, psicóloga e especialista em terapia cognitivo-comportamental.


Dessa forma, o movimento workaholismo, como ficou conhecido o estilo de dedicação excessiva às obrigações, apresenta-se em escala global. Essa tendência ganha a atenção do mercado e sua popularização, por vezes positiva, impede que os prejuízos dessa corrente sejam percebidos.


A atenção a esse modelo de comportamento é requerida a partir do momento que a doação do colaborador compromete outros âmbitos da sua vida, como o lazer. Casos apresentados pela mídia, como a situação que envolveu o alemão Moritz Erhardt, estagiário que faleceu após trabalhar 72 horas seguidas, trazem à tona o perigo que o empenho em demasia pode ocasionar. Além disso, o debate sobre a necessidade do equilíbrio entre as demandas profissionais e pessoais ganha visibilidade, questionando o benefício do workaholismo.


Onde está o equilíbrio?

Então, como é possível reconhecer as exigências constantes, somadas ao aperfeiçoamento individual, no mercado de trabalho? Nesse cenário, “a emoção precede a razão, e ambientes estressantes aliados ao mau conhecimento dos sentimentos faz com que o cérebro ative neurotransmissores e funcione em estresse, sobrecarregando-o”, aponta a neuropsicóloga Lígia Pacheco.


Convivendo diariamente com a tensão, a pessoa que se encontra em circunstâncias hostis pode apresentar sintomas de ordem emocional. Nesse contexto, a síndrome de burnout (leia mais na página 6) pode ser capaz de vitimar um indivíduo considerado workaholic, que esteve inapto à coordenação do trabalho excessivo.


O limite entre o workaholismo e o desenvolvimento da síndrome é muito tênue. Isso porque a figura do profissional torna-se modelo propício para cumprimento das funções, elevando, desse modo, o nível de perfeccionismo e a consequente ansiedade.


O papel das corporações

Com essa tendência atestada, as instituições devem se munir de ferramentas para atenuar as pressões a nível individual e coletivo. A atuação de um funcionário ligado ao desenvolvimento humano é uma das alternativas para essa possibilidade.


Outra forma de o contratado e a empresa garantirem o comprometimento com o trabalho, sem esbarrar na desestabilidade emocional, é por meio das regras estabelecidas a cada profissão, como a meta de horário. “As tolerâncias existem, sendo também controladas pela legislação trabalhista, justamente para que as respectivas jornadas de cada categoria não extrapolem os limites entre o saudável e os riscos que o excesso de trabalho pode causar a cada pessoa”, como conclui Sonia Garcia, consultora em recursos humanos.


CONSULTORIAS Adriana Schneider, psicóloga especialista em desenvolvimento humano da Cicclos; Ellen Moraes, psicóloga e especialista em terapia cognitivo-comportamental (TCC); Lígia Pacheco, neuropsicóloga e neurocientista; Sonia Garcia, consultora em recursos humanos.






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