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A metade doce

  • Foto do escritor: Rafael de Toledo
    Rafael de Toledo
  • 15 de jan. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de fev. de 2021

Apesar de ser considerado uma reação ruim pelo senso comum, o medo pode se apresentar também de maneira favorável ao ser humano


Texto: Rafael de Toledo/Colaborador Entrevistas: Ariely Polidoro/Colaboradora Design: Laura Alcará/Colaboradora


A mente humana está apta a imaginar. Neste contexto, a fórmula do sucesso de alguns comportamentos se associa também à produção de algumas suposições, baseada nos padrões revelados pela ocasião vivenciada. Consequentemente, reações são esperadas do cérebro humano, e o medo é uma delas. A dificuldade ao lidar com algum objeto ou fato desconhecido é capaz de gerar tensão. Contudo, essa forma de reagir a situações inexploradas – quando não exacerbada – pode colaborar para manter a integridade do indivíduo diante de outras ocasiões que realmente merecem cautela.


Medo para quê?

O medo é uma resposta química e física atribuída, primeiramente, ao córtex sensorial. Em seguida, a ação do cortisol agiliza a execução de alguns movimentos. Assim, o reflexo se baseia na possível ocorrência de situações em que a expectativa de erro, de acidente ou qualquer malefício à estabilidade pessoal seja observada. Quando esse traço humano se torna frequente e inibitório, o medo pode ser a causa de transtornos da mente. Tal fato pode começar precocemente: segundo os dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, 38% das garotas entre 13 e 17 anos de idade e 26% dos meninos da mesma idade apresentam sintomas de ansiedade, sendo que esses traços podem ter início entre 10 e 11 anos.


Reação social

Paralelamente ao surgimento de sintomas, os quais tendem a indicar distúrbios mentais, “o medo é uma tentativa de proteção. Ele é necessário, para que as avaliações dos riscos sejam ponderadas”, comenta a psicóloga Simone Januário. Contudo, recorrentemente, o senso comum inibe o receio, como forma de impedir que o indivíduo perca o potencial de encorajamento. Isso geralmente ocorre porque o indivíduo apresenta “uma fase chamada ‘recusa ao chamado’. Esse estágio pode ser apontado quando a pessoa se depara com o problema, mas não quer se arriscar para conquistar o objetivo”, comenta o coach de relacionamentos Pablo Tuffano. “É o momento onde o herói sente medo, preguiça, vergonha e acredita que não conseguirá superar o desafio”, completa o profissional.

Em palestra para a organização TEDTalks, a escritora norte-americana Karen Thompson Walker comenta como todos conhecem o medo e, mesmo assim, ainda é visto como fraqueza. No seu discurso, ela apresenta a história que inspirou a obra Moby Dick, de Hermann Neville. Quando uma embarcação foi abatida por uma cachalote, no Chile do século 19, os tripulantes que sobreviveram seguiram para ilhas adjacentes e o grande medo era a existência de canibais. Entretanto, não houve nenhuma reflexão sobre problemas reais ou imediatos, como a falta de alimento. Ou seja, havia naquele momento a criação de um cenário que, até então, não condizia com a realidade, pois o que aconteceria dali pra frente poderia ser muito mais avassalador.

A tendência que o ser humano possui de criar parâmetros e ideias que podem comprometer a sua performance, associa-se ao comportamento da espécie ao se projetar na opinião de outros. Ou seja, para uma mudança efetiva, principalmente em situações que podem gerar medo, como o recomeço, a vivência alheia é levada em conta, podendo prejudicar as resoluções próprias. “Muitas pessoas ficam reféns da opinião alheia e só se submetem ao recomeço se tiverem influência de terceiros, não percebendo o quão importante é a conscientização dos motivos que as levam a recomeçar”, comenta Lidiane Silva.


Mudando a válvula

O que podemos fazer para que o medo não nos domine? Ou, ainda, como usá-lo a favor da performance diária? O primeiro passo é o autoconhecimento, perguntar a si mesmo quem em você está com tanto medo, por quê, quais são os princípios, as necessidades e os valores que estão sendo atendidos ou negligenciados com a situação atual ou a desejada”, comenta Adriana Schneider.

O autoconhecimento é seguido pela consciência de como o momento deve ser vivido. Essa é uma das engrenagens para a compreensão do cenário que gera medo. “Quando ficamos cientes que, no caso de tudo dar errado, o dano causado não será tão prejudicial e conseguiremos lidar com as consequências, então podemos trocar o medo pela responsabilidade”, comenta Pablo.

A intervenção sobre esta reação perpassa a análise de risco. Por meio deste artifício, é possível que o indivíduo em estado de tensão possa avaliar qual é a circunstância que o favorece. Para combater o medo natural que a maioria dos recomeços ocasiona, uma das estratégias é avaliar o pior cenário.

Um dos benefícios é a possibilidade de concentração e de reflexos mais ágeis, tornando a desenvoltura mais propícia. Mas, para tanto, é importante que um grupo de pessoas favoreça essa transição comportamental. “Quando envolvemos pessoas importantes nas nossas jornadas, o nosso nível de compromisso aumenta, pois agora você não precisa mais prestar contas apenas para você mesmo, mas sim para a comunidade de pessoas que você desejou envolver”, encerra Tuffano.


CONSULTORIAS Adriana Schneider, coach especialista em desenvolvimento humano; Lidiane Silva, psicóloga; Pablo Tuffano, coach de relacionamentos; Simone Januário, psicóloga.









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